Dia Mundial de Combate ao Bullying
- Rui Terrinha

- 20 de out.
- 7 min de leitura

O dia 20 de outubro marca o Dia Mundial de Combate ao Bullying, uma data criada para lembrar que o respeito e a empatia não são apenas valores escolares, mas pilares de uma convivência saudável em todas as fases da vida. O objetivo deste dia é alertar para uma forma de violência que, apesar de muitas vezes silenciosa, deixa marcas profundas: o bullying.
A palavra “bullying” vem do inglês “bully”, que significa agressor, e descreve comportamentos de intimidação, humilhação ou perseguição repetida contra uma pessoa ou grupo. Pode acontecer em qualquer ambiente — escola, trabalho, comunidade ou redes sociais — e envolve um desequilíbrio de poder, em que a vítima tem dificuldade em se defender.
O que é bullying e como se manifesta

O bullying é mais do que uma simples brincadeira ou desentendimento. Trata-se de uma conduta intencional, persistente e que causa sofrimento físico ou psicológico. Pode assumir várias formas, algumas mais óbvias, outras mais subtis.
Formas mais conhecidas
Bullying físico: agressões, empurrões, pontapés, roubos ou destruição de pertences.
Bullying verbal: insultos, provocações, comentários humilhantes, ameaças.
Bullying psicológico: manipulação emocional, chantagem, desprezo, indiferença.
Formas menos conhecidas
Além das formas clássicas, existem outras modalidades de bullying que passam despercebidas, mas que são igualmente destrutivas:
Bullying relacional (ou social): quando alguém é excluído do grupo, ignorado sistematicamente, ou alvo de boatos e manipulação de amizades. O objetivo é isolar a pessoa e enfraquecer a sua rede de apoio.
Bullying institucional: surge quando o ambiente escolar ou profissional tolera práticas abusivas, ou quando regras e atitudes reforçam o poder de uns sobre outros. Exemplo: uma escola que ignora repetidas queixas de um aluno ou uma empresa que banaliza a humilhação pública como “forma de motivar”.
Ciberbullying: a agressão através de meios digitais — redes sociais, mensagens, fóruns, jogos online. É uma forma de violência contínua, pois as mensagens ofensivas podem ser partilhadas indefinidamente.
Ciberbullying passivo: quando alguém não participa diretamente, mas reforça a agressão com “gostos”, comentários ou partilhas de conteúdos ofensivos. O silêncio ou a indiferença, neste contexto, tornam-se cumplicidade.
As consequências do bullying
Os efeitos do bullying vão muito além do momento da agressão. As marcas emocionais e psicológicas podem permanecer durante anos, influenciando a forma como a pessoa se relaciona consigo própria e com o mundo.
Em crianças e adolescentes
As vítimas de bullying tendem a apresentar:
Baixa autoestima e insegurança crónica
Ansiedade e fobias sociais
Depressão e isolamento
Dificuldades de concentração e queda no rendimento escolar
Distúrbios do sono e do apetite
Culpa ou vergonha sem motivo real
Pensamentos autodestrutivos ou suicidas
O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de crescimento e descoberta, transforma-se num local de medo e tensão. Quando o sofrimento é contínuo, a criança ou jovem pode desenvolver crenças limitantes como “não sou bom o suficiente”, “ninguém gosta de mim” ou “não tenho valor”. Essas ideias, se não forem tratadas, acompanham a pessoa pela vida adulta.
Em adultos
Os efeitos do bullying infantil prolongam-se muitas vezes na vida adulta. É comum encontrar adultos que:
Evitam situações sociais por medo de rejeição
Têm dificuldade em afirmar-se ou em impor limites
Desenvolvem relações desequilibradas, aceitando maus-tratos por medo de conflito
Apresentam sintomas físicos de stress (dores musculares, tensão, fadiga crónica)
Reproduzem comportamentos de submissão ou, em alguns casos, tornam-se agressores para compensar o sentimento de inferioridade
Também existe o bullying entre adultos, especialmente em ambientes de trabalho. Pode manifestar-se através de:
exclusão de reuniões ou decisões importantes
críticas públicas ou humilhação perante colegas
boatos que afetam a reputação profissional
sobrecarga de tarefas intencional
negação de oportunidades ou promoções
Em qualquer idade, o bullying é uma violação da dignidade humana. Nenhum tipo de abuso deve ser normalizado.
A dimensão do problema em Portugal
Nos últimos anos, o tema ganhou mais visibilidade em Portugal graças a campanhas nacionais e a programas educativos. O plano “Escola Sem Bullying, Escola Sem Violência”, implementado pelo Ministério da Educação, apoia escolas na criação de estratégias de prevenção e resposta rápida a situações de agressão.
Paralelamente, instituições como a Guarda Nacional Republicana (GNR) e a Polícia de Segurança Pública (PSP) têm desenvolvido ações de sensibilização nas escolas, alertando alunos, pais e professores para o impacto do bullying e do ciberbullying.
Apesar dos esforços, os dados mostram que o problema está longe de desaparecer. O aumento da exposição digital e a facilidade de acesso às redes sociais criaram novas formas de agressão, muitas vezes invisíveis aos olhos dos adultos.
Como identificar sinais de bullying
Nem sempre é fácil reconhecer que uma criança, jovem ou adulto está a ser vítima de bullying. No entanto, há sinais de alerta que merecem atenção:
Em crianças e jovens
Mudanças repentinas de comportamento ou humor
Medo de ir à escola ou desculpas frequentes para faltar
Queda nas notas ou desinteresse pelas atividades que antes gostava
Roupas rasgadas, objetos perdidos ou danificados com frequência
Queixas físicas recorrentes (dores de cabeça, barriga, náuseas)
Isolamento, silêncio, retraimento ou irritabilidade excessiva
Em adultos
Dificuldade em dormir ou insónias
Queixas de ansiedade ou fadiga constantes
Evitar o local de trabalho ou eventos sociais
Sentimentos de culpa, inutilidade ou impotência
Falta de motivação e redução de desempenho profissional
Quando há suspeita de bullying, é essencial não minimizar a situação. Frases como “isso é só uma fase” ou “tens de ser mais forte” apenas reforçam a solidão da vítima.
O papel da família e da escola
A prevenção do bullying começa em casa e estende-se à escola e à comunidade. O diálogo aberto é uma das ferramentas mais poderosas. Crianças e jovens que se sentem ouvidos têm maior capacidade de pedir ajuda e enfrentar situações de injustiça.
O que os pais podem fazer
Conversar regularmente sobre o dia-a-dia, mostrando interesse genuíno
Ensinar empatia e respeito pelas diferenças
Ajudar os filhos a desenvolver autoestima e assertividade
Observar mudanças de comportamento e procurar ajuda profissional quando necessário
Evitar respostas punitivas; o acolhimento é mais eficaz que o castigo
O papel dos professores e educadores
Promover atividades que valorizem a cooperação em vez da competição
Intervir rapidamente quando há suspeita de exclusão ou humilhação
Incentivar testemunhas a denunciar comportamentos abusivos
Formar grupos de apoio entre alunos, com mediação e diálogo
Trabalhar a inteligência emocional como parte do currículo escolar
A escola deve ser um espaço de segurança e pertença. Quando cada aluno se sente valorizado, o grupo torna-se o maior agente preventivo contra o bullying.
Ciberbullying: a violência que nunca dorme
O ambiente digital ampliou o alcance e a intensidade do bullying. As redes sociais, quando usadas de forma irresponsável, transformam a agressão em espetáculo. Comentários, fotos ou vídeos ofensivos podem ser partilhados milhares de vezes, criando um ciclo de humilhação quase impossível de controlar.
Alguns cuidados importantes:
Evitar partilhar ou reagir a conteúdos ofensivos
Guardar provas (capturas de ecrã, mensagens) para eventual denúncia
Bloquear ou reportar perfis abusivos
Conversar com jovens sobre responsabilidade digital e privacidade
O ciberbullying tem impacto real e pode ser tão devastador quanto o físico. O apoio emocional e a intervenção rápida são fundamentais.
Caminhos terapêuticos e de recuperação
Superar as marcas do bullying exige tempo, paciência e, muitas vezes, acompanhamento profissional. Cada pessoa reage de forma diferente ao trauma, mas há caminhos que ajudam a restaurar o equilíbrio interno.
Acompanhamento psicológico
A psicoterapia é essencial para:
Reconstruir a autoestima
Resgatar a confiança nas relações
Trabalhar sentimentos de medo, vergonha ou raiva
Desenvolver estratégias de defesa emocional e comunicação assertiva
A terapia pode ser individual, familiar ou em grupo, dependendo da gravidade e das necessidades da pessoa.
Abordagens complementares

Além da psicologia e psiquiatria, terapias complementares podem contribuir de forma significativa no processo de recuperação. Entre elas:
Kinesiologia emocional: ajuda a libertar tensões acumuladas no corpo associadas a experiências de humilhação ou medo, permitindo restaurar o fluxo energético e a sensação de segurança.
Terapia sacrocraniana: promove relaxamento profundo e regula o sistema nervoso, reduzindo os efeitos do stress pós-traumático.
Constelações familiares: permitem identificar dinâmicas ocultas que podem perpetuar padrões de submissão ou culpa, facilitando reconciliações internas.
Reflexologia e massagem terapêutica: ajudam a reintegrar corpo e mente, libertando bloqueios que surgem após períodos prolongados de ansiedade.
Técnicas de respiração e meditação: fortalecem o autocontrolo emocional e a capacidade de permanecer presente.
Estas terapias não substituem o acompanhamento médico, mas podem ser um suporte importante para restaurar o equilíbrio físico e emocional.
A importância da empatia
A empatia é o antídoto mais poderoso contra o bullying. Saber colocar-se no lugar do outro, reconhecer a dor alheia e agir com compaixão são atitudes simples, mas transformadoras.
Pequenas ações que fazem diferença
Escutar sem julgar
Defender alguém que está a ser humilhado
Encorajar comportamentos de inclusão
Reconhecer o esforço dos outros, mesmo em pequenas coisas
Ser exemplo de respeito, dentro e fora das redes sociais
Cada gesto de gentileza enfraquece o ciclo da violência.
O que fazer se fores vítima de bullying
Ninguém deve enfrentar o bullying sozinho. Se estiveres a passar por uma situação de abuso:
Fala com alguém de confiança. Pode ser um amigo, familiar, professor ou terapeuta.
Regista as ocorrências. Em casos de ciberbullying, guarda provas.
Evita reagir com violência. A agressão física ou verbal agrava o problema.
Procura apoio profissional. Um psicólogo pode ajudar a lidar com as emoções e definir estratégias.
Valoriza quem te apoia. O contacto com pessoas que te respeitam é essencial para recuperar a autoestima.
E se fores testemunha?
Ser espectador também é ter responsabilidade. O silêncio perpetua o abuso. Se testemunhares uma situação de bullying:
Intervém de forma segura, mostrando apoio à vítima
Informa um adulto responsável ou a direção da escola
Não partilhes nem divulgues conteúdos ofensivos
Lembra-te: neutralidade diante da injustiça é escolha a favor do agressor
Um compromisso coletivo
Combater o bullying não é apenas proteger as vítimas. É construir uma cultura de respeito e empatia. Isso exige compromisso diário de todos — famílias, escolas, empresas e cidadãos.
Podemos começar por atitudes simples:
Falar abertamente sobre o tema
Criar espaços de diálogo e partilha
Valorizar as diferenças e incentivar a cooperação
Reagir quando presenciamos injustiça
O bullying não é um problema de “crianças”. É um espelho da forma como nos relacionamos enquanto sociedade. Ao enfrentá-lo, transformamos não apenas escolas e locais de trabalho, mas também a qualidade das relações humanas.
Neste Dia Mundial de Combate ao Bullying, o convite é à reflexão e à ação. Cada palavra, cada gesto e cada silêncio têm poder. Quando escolhemos o respeito, damos um passo para um mundo onde a empatia é mais forte do que o medo.
Dizer “não” ao bullying é dizer “sim” a uma sociedade mais consciente, compassiva e saudável, onde todos podem ser quem são, sem medo de serem feridos por isso.




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