top of page

O poder do diagnóstico: cura ou aprisiona?

  • Foto do escritor: Rui Terrinha
    Rui Terrinha
  • há 2 dias
  • 5 min de leitura
ree

Quando a palavra cria realidades no corpo


Há muito tempo que observo um fenómeno curioso nas consultas. A maioria das pessoas chega com diagnósticos, não apenas com sintomas. “Tenho hérnia”, “tenho fibromialgia”, “tenho ansiedade”. E quando dizem “tenho”, algo muda na forma como se percebem. É como se, a partir daquele momento, o nome se tornasse uma espécie de identidade.


O poder do diagnóstico é tão grande que, em alguns casos, parece redefinir a pessoa. Aquilo que antes era apenas uma sensação ou um desconforto passa a ser uma história com nome e significado. Mas será que o rótulo cura ou aprisiona?



Quando o nome se transforma em realidade


Na física quântica existe um conceito chamado colapso da função de onda. Ele diz que uma partícula pode estar em vários estados possíveis até que alguém a observe. No instante em que é observada, uma possibilidade torna-se realidade e todas as outras deixam de existir.


Gosto de pensar que algo semelhante acontece com o diagnóstico. Antes de o receber, uma pessoa vive num campo de possibilidades: esperança, dúvida, vontade de compreender. Quando chega o diagnóstico, tudo parece colapsar num único ponto.


A partir daí, em vez de múltiplas hipóteses, há uma verdade fixa. O corpo, a mente e até as relações começam a organizar-se em torno desse rótulo. É aí que o poder do diagnóstico se manifesta de forma mais profunda: o nome torna-se destino, ainda que não precise de o ser.



O que acreditas, o corpo confirma


Um diagnóstico tem peso porque vem de uma autoridade e mexe com a nossa perceção da realidade. Ao ouvir o nome de uma doença, muitas pessoas sentem medo. E o medo, quando se instala, altera a fisiologia.


A atenção concentra-se no problema. O cérebro reforça ligações neuronais ligadas àquela ideia. A postura muda, a respiração encurta, o sistema imunitário enfraquece. Tudo começa a girar em torno daquilo que foi nomeado.


Mas há outro lado. Quando o diagnóstico é visto como ponto de partida e não como sentença, ele também pode libertar. Ajuda a compreender, a agir, a reorganizar a vida. O poder do diagnóstico não está no nome em si, mas no significado que escolhemos dar-lhe.



A força da atenção


Há uma frase que uso muitas vezes: onde colocas a atenção, colocas energia. E isso aplica-se em pleno ao processo de cura.


Quando uma pessoa foca toda a sua atenção no medo, o corpo reage como se o perigo fosse real. Vive em alerta, desgasta-se, consome energia. Mas quando o foco muda, quando há confiança, aceitação e vontade de melhorar, o corpo reorganiza-se.


O que a ciência chama de efeito placebo é a prova disso. A mente é capaz de ativar mecanismos de cura reais apenas com base na crença. A diferença está em como observamos o que nos acontece.


O diagnóstico pode ser uma explicação, mas não tem de ser uma sentença. O rótulo pode servir para compreender, não para aprisionar.



O campo invisível das possibilidades


O biólogo Rupert Sheldrake apresentou uma ideia interessante: tudo o que existe está ligado a campos invisíveis de informação que ele chama de campos mórficos. Esses campos funcionam como uma memória da natureza e influenciam a forma como a vida se organiza.


Cada pensamento, cada emoção e cada crença alimenta esses campos. Se uma família ou sociedade reforça a ideia de que certas doenças são inevitáveis, esse padrão ganha força. Mas o contrário também é verdade: hábitos de cura e crenças positivas alimentam um campo de saúde.


Quando um médico ou terapeuta diz a alguém “isto é incurável”, lança uma informação pesada nesse campo. Mas quando diz “isto pode melhorar”, abre espaço para reorganização. O poder do diagnóstico também é coletivo: o que é dito e acreditado por muitos ganha forma na realidade.

Nota do autor: As ideias sobre os campos mórficos inspiram-se no trabalho do biólogo Rupert Sheldrake, autor de obras como Uma Nova Ciência da Vida e O Presente do Passado. Esta é uma interpretação livre dessas teorias, e não uma citação literal. Para saber mais, podes visitar rupertsheldrake.org.


A consciência como frequência


O professor Hélio Couto fala sobre a ideia de ressonância harmónica, um conceito que propõe que a mente humana é capaz de sintonizar-se com diferentes frequências de informação, e assim, alterar o estado interno.


Quando alguém acredita que está em processo de cura, essa crença muda a vibração do corpo. Os pensamentos, as emoções e a biologia começam a alinhar-se com essa nova frequência. Mesmo sem explicação científica completa, é evidente que a forma como pensamos e sentimos influencia o corpo.


Se o diagnóstico é o colapso inicial de uma realidade, a consciência pode criar outro colapso, mais leve, mais aberto, mais saudável.


Nota do autor: As reflexões sobre a Ressonância Harmónica inspiram-se em ideias do Prof. Hélio Couto, partilhadas em vídeos e materiais públicos disponíveis no seu site oficial heliocouto.com. Esta interpretação é da minha responsabilidade e não representa necessariamente a visão do próprio professor.


A doença como linguagem


Em vez de ver a doença como inimiga, podemos vê-la como uma linguagem do corpo. Cada sintoma é uma mensagem, uma tentativa do corpo de expressar o que está desalinhado.


O diagnóstico ajuda a traduzir essa linguagem, mas a tradução não é o fim da história. É o começo de um diálogo.


O corpo fala através da dor. Cabe-nos ouvir com medo ou com curiosidade.


Quando escutamos com abertura, o corpo sente-se ouvido e começa a relaxar. E quando relaxa, começa a curar.



Reescrever o diagnóstico


O diagnóstico marca o momento em que algo se torna consciente. Mas o que fazemos com essa consciência é escolha nossa.


Podemos continuar a alimentar o medo ou podemos começar a criar uma nova narrativa. Substituir o pensamento “tenho uma doença” por “o meu corpo está a reorganizar-se” muda completamente o estado interno.


O cérebro começa a procurar caminhos de equilíbrio em vez de caminhos de dor. A respiração muda, o sistema nervoso acalma, e o corpo começa a encontrar o seu ritmo natural.


Cada vez que alguém escolhe acreditar na possibilidade de cura, reforça um campo coletivo de esperança. Isso também é o poder do diagnóstico: a capacidade de transformar informação em consciência.



O olhar do terapeuta


Na física e na vida, o observador influencia o resultado.


Quando um terapeuta olha para o paciente como alguém em processo de recuperação, o corpo do paciente responde a essa confiança. O tom de voz, o olhar e a presença fazem parte do tratamento.


Há consultas que curam antes de qualquer técnica, apenas pela forma como alguém se sente visto. O poder do diagnóstico pode ser uma prisão ou uma libertação, dependendo de quem o pronuncia e de quem o ouve.



O nome não é o destino


A doença não é castigo, é informação. O diagnóstico é o momento em que essa informação ganha forma, mas continua maleável.


Podemos fixar-nos nela ou usá-la como impulso para mudar.


O poder do diagnóstico não está apenas no que o médico diz, mas na forma como o corpo e a mente recebem essa palavra. Podemos deixar que o rótulo nos defina ou podemos escolher escrever uma nova história.


Talvez o grande segredo da cura esteja nisto: compreender que as palavras têm peso, e que cada uma delas pode colapsar uma realidade diferente dentro de nós.

Comentários


© 2025 por Rui Terrinha. Todos os direitos reservados.

bottom of page