As cinco feridas emocionais
- Rui Terrinha

- 27 de nov.
- 3 min de leitura

A infância é um terreno fértil. É ali que a mente está mais aberta e maleável, pronta a absorver tudo o que vê, ouve e sente. Nessa fase somos moldados por gestos, palavras, cuidados e falhas. O que muitas vezes não percebemos é que grande parte do que nos magoa hoje começou lá atrás. É assim que surgem as chamadas feridas emocionais.
Estas marcas não ficam só na memória. Elas influenciam a forma como sentimos, reagimos e nos relacionamos. Neste artigo vamos esclarecer o que são, como aparecem e como podem ser tratadas com ajuda profissional.
O que são feridas emocionais
Feridas emocionais são dores que nasceram na infância e deixaram cicatrizes no inconsciente. Podem vir de situações aparentemente pequenas para um adulto mas gigantes para uma criança. Uma humilhação, uma crítica dura, um afastamento, uma dinâmica familiar agressiva ou uma quebra de confiança podem criar fissuras profundas.
Quando falamos de trauma, falamos de acontecimentos marcantes que geram bloqueios. A criança que fomos continua ativa dentro de nós. É ela que reage através desses traços.
Alguns sinais comuns de feridas emocionais:
dificuldade em confiar
tendência a evitar vínculos
medo de dececionar
necessidade constante de aprovação
hipersensibilidade a conflitos
Não é vergonha admitir que o passado ainda mexe contigo. É simplesmente humano.
O que causa feridas emocionais
A origem varia muito de pessoa para pessoa. Quase sempre nasce em ambientes onde a criança cresce: família, escola, relações próximas. É a fase onde o repertório emocional ainda está a ser construído.
Algumas causas comuns:
conflitos familiares e divórcios traumáticos
falta de afeto ativo
críticas exageradas
ausência emocional de cuidadores
comportamentos agressivos ou tóxicos em casa
Quando estas experiências não são integradas, acabam por se cristalizar como padrões de proteção que carregamos até à vida adulta.
As 5 Feridas Emocionais
A autora Lisa Bourbeau no livro "As Cinco Feridas Emocionais" (link de afiliado), organizou estas feridas em cinco categorias principais. Entender cada uma delas ajuda a reconhecer padrões e dar um primeiro passo em direção à cura.
1. Ferida do abandono
Esta ferida nasce cedo. Quando a criança vive afastamentos longos, falta de presença emocional ou instabilidade relacional, interpreta isso como abandono. A mente infantil não faz leituras complexas. Ela sente ausência como perda.
Na vida adulta isto pode aparecer como:
apego exagerado
ansiedade ao imaginar que alguém pode ir embora
medo intenso de ficar só
necessidade de confirmação constante
2. Ferida da rejeição
Aqui a ferida nasce da falta de afeto claro e consistente. Crianças que crescem sem demonstrações de carinho, validação e segurança emocional tendem a acreditar que não são suficientes.
Na vida adulta surgem traços como:
baixa autoestima
receio de iniciar relações
autossabotagem
dificuldade em aceitar elogios
medo de não servir para ninguém
3. Ferida da humilhação
Quando a criança é criticada de forma dura ou exposta ao ridículo, cria uma relação tensa com a própria expressão. Pode ser em casa, na escola ou em qualquer lugar onde se sentiu julgada.
Mais tarde isto manifesta-se assim:
dificuldade em partilhar sentimentos
medo de errar
vergonha exagerada
tendência a evitar destaque
autocensura
É comum adultos com esta ferida viverem em constante alerta, para não dar nenhum passo que gere julgamento.
4. Ferida da traíção
A criança confia por instinto. Quando essa confiança é quebrada diversas vezes, cria-se a perceção de que ninguém é seguro. É como se o mundo fosse um lugar instável.
Os sinais na vida adulta incluem:
desconfiança crónica
controlo excessivo
dificuldade em delegar
medo de compromissos
suspeita permanente nas relações
É uma ferida que desgasta muito os relacionamentos.
5. Ferida da injustiça
Esta ferida nasce em ambientes onde a criança se sente tratada de forma desigual ou sem voz. Pode ser por comparações constantes, favoritismos ou regras incoerentes.
Os reflexos em adulto incluem:
rigidez pessoal
autocobrança elevada
sensibilidade extrema a críticas
dificuldade em aceitar erros próprios
tendência a ver o mundo como hostil
Como curar as feridas emocionais com apoio profissional
Identificar uma ferida não significa curá-la. Muitas pessoas passam anos a repetir padrões achando que é apenas “o seu jeito”. Só que estes padrões são mecanismos de defesa criados por uma versão mais jovem e assustada de ti.
Quando não tratados podem evoluir para ansiedade, depressão, esgotamento e crises recorrentes.
A terapia ajuda porque:
oferece um espaço seguro para explorar memórias
clarifica padrões automáticos
fortalece recursos internos
melhora a regulação emocional
ajuda a construir relações mais saudáveis
A cura não acontece num estalar de dedos. Mas cada passo consciente reduz o peso destas cicatrizes e devolve-te escolha, liberdade e presença.
Se reconheceres partes de ti em alguma destas feridas, isso não significa que há algo errado contigo. Significa apenas que estás a carregar histórias antigas que precisam de atenção. E isso é perfeitamente possível de trabalhar com acompanhamento certo.






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